Trabalho coletivo e boa gestão: o caminho para organizações sociais mais fortes na Amazônia
A gestão eficiente é um dos pilares para o sucesso e a sustentabilidade das organizações socioprodutivas na Amazônia. É o que tem sido demonstrado pelo projeto Conexão Amazônia, do Idesam e CNP Seguradora, nas ações de capacitação e assessoria técnica junto às Organizações Socioprodutivas (OSPs) parceiras em Lábrea, Tapauá, Apuí e Itapiranga.
O Idesam desenvolveu uma abordagem própria de capacitação e assessoria técnica em gestão estruturada em três etapas: Diagnóstico participativo e nível de desenvolvimento organizacional; Elaboração e validação do Plano de Desenvolvimento Organizacional (PDO) e Adoção e qualificação de instrumentos e ferramentas de gestão.
A atuação do Idesam é voltada para o desenvolvimento de competências técnicas em gestão com base na capacitação e troca de experiências. O formato considera metodologias ativas de educação popular, incluindo a simulação de situações reais, visitas de campo, rodas de conversa, estudos dirigidos, trabalhos em grupo, debates em plenária e contribuições conceituais abordando Gestão Organizacional, Gestão da Produção, Gestão Financeira e Gestão Comercial.
Flávio Quental, consultor do Idesam, destacou que a metodologia utilizada integra ciclos formativos presenciais nas comunidades e assessoria técnica on-line, incluindo reuniões de planejamento, avaliação e a realização dos encontros “Diálogos Pró-Gestão (https://www.youtube.com/@idesanico) que contaram com a participação de especialistas como Luciana Marcolino e Leonardo Lopes (Conexsus), Isabela Renó e Paulo Silva (IR Consultoria), Marisa Taniguchi (Inatú Amazônia), Philippe Waldhoff (Ifam) e Jaime Lima (Idesam). “O trabalho é construído com a participação ativa das pessoas em todas as suas etapas e desenvolvido a partir das demandas reais enfrentadas pelas associações parceiras no trabalho de gestão das cadeias produtivas da sociobiodiversidade”, afirmou.
“Cooperar é fazer juntos aquilo que não conseguimos sozinhos. Mas para dar certo, é preciso governança, regimento, planejamento”, explicou Isabela Renó, consultora do projeto: “Quando a organização tem um regimento interno que não é cumprido pelos associados, surgem conflitos que desestabilizam o grupo. Por outro lado, quando as regras são claras e pactuadas, a associação ganha respeito interno e externo, e isso facilita o acesso a recursos e parcerias”, completou.

Atividade em campo na Terra Indígena Igarapé São João (Tapauá/AM). Equipe do Idesam com o povo Xingané Xipuary
A realidade compartilhada pelos participantes mostra que os desafios são muitos, desde a formalização até a regularização fiscal e a transparência na gestão dos recursos. “Hoje a gente não tem mais aquela dívida antiga. Estamos com o cofre verde. Isso é fruto de organização, de gestão transparente. É muito importante”, relatou Laureni Barros, presidente da APADRIT, da Reserva Extrativista do Rio Ituxi, em Lábrea, reforçando o papel do Idesam nas capacitações e assessoria técnica voltadas ao fortalecimento da gestão organizacional, produtiva, financeira e comercial da associação.
Outro ponto fundamental levantado por Leonardo Lopes, da Conexsus, é a responsabilidade assumida ao se constituir uma organização coletiva. “Assinar um CNPJ significa assumir compromissos legais e fiscais. A boa gestão é, portanto, uma exigência e deve ser feita com transparência e participação, porque os recursos são coletivos”, destacou. Segundo ele, uma gestão organizada traz autonomia: “É um instrumento de liberdade e força dentro de um grupo, de uma organização, de um território”, pontuou.
Leonardo também ressaltou que a construção de confiança depende de processos contínuos: “Quando você tem clareza de papéis e prestação de contas, os associados confiam mais na diretoria e participam com mais segurança. Isso fortalece toda a cadeia de atuação, desde a base até os parceiros externos”, afirmou.
A troca de experiências permitiu também que as associações identificassem limites legais das suas atuações e a importância de buscar novos formatos, como a criação de cooperativas, quando o objetivo for a comercialização. “Associação não tem fins lucrativos. Quando entra o mercado, é preciso pensar em cooperativa”, afirmou Wanderley Cruz, da Associação Agroextrativista Comunitária da RDS do Uatumã (AACRDSU).
No seu primeiro ano de execução, o Projeto Conexão Amazônia possibilitou a elaboração participativa de 05 Planos de Desenvolvimento Organizacional, com 238 horas de capacitação e assessoria técnica em gestão associativista envolvendo 313 pessoas das 05 OSPs parceiras e 03 organizações de jovens, incluindo as formações presenciais, as reuniões on-line e os Diálogos Pró-Gestão, contemplando ainda o suporte técnico à comercialização das OSPs, o apoio no acesso a políticas públicas e a produção de material didático voltado aos gestores e membros das associações.
As oficinas de capacitação, as reuniões de assessoria e os encontros ‘’Diálogos Pró-Gestão’’ proporcionaram o debate e construção do conhecimento a respeito da organização interna, finanças, produção e comercialização das OSPs, reforçando a importância de fortalecer a estrutura organizacional das associações e cooperativas, já que muitas vezes o foco no processo produtivo acaba deixando a gestão em segundo plano, o que compromete o desenvolvimento pleno e a sustentabilidade dessas iniciativas.
SOBRE O Projeto Conexão Amazônia é uma iniciativa realizada pelo Idesam e CNP Seguradora. Tem o objetivo de promover o empreendedorismo e a geração de renda para cerca de 500 famílias amazônicas, com 05 associações: ASPACS e APADRIT no município de Lábrea; AMIATA no município de Tapauá; ASAGA em Apuí e AACRDSU em Itapiranga, contemplando 02 Unidades de Conservação federais (Reserva Extrativista do Rio Ituxi e Reserva Extrativista do Médio Purus), 01 Unidade de Conservação estadual (Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã), 01 Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE Aripuanã-Guariba) e 03 Terras Indígenas (TI Apurinã do Igarapé São João, TI Apurinã do Igarapé Tawamirim e TI Itixi Mitari). A CNP Seguradora, por meio de sua acionista CNP Assurances, investiu R$ 2,5 milhões no Projeto.
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Texto: Imprensa Idesam| imprensa@idesam.org| Foto:Robson Costa
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