OPINIÃO – Uma nova matriz econômica para o controle do desmatamento

Por: André Vianna – Diretor técnico do Idesam

O controle do desmatamento na Amazônia brasileira apenas terá um resultado de longo prazo e perene ao mudarmos a atual matriz econômica da região.  Ações de comando e controle, assim como de gestão territorial são fundamentais no curto prazo. No período de 2004 a 2014, tais ações resultaram em uma redução de desmatamento histórica na Amazônia brasileira. Contudo, uma vez que as mesmas atividades econômicas se mantiveram como as principias na região, as taxas de desmatamento retornaram a crescer ao enfrentar mudanças políticas e de governança. 

 Atualmente, o modelo de desenvolvimento na Amazônia Legal é baseado em comodities de baixo valor agregado, como minério de ferro e soja, além recursos ligados a administração pública. Atividades de maior impacto ambiental com baixo emprego tecnológico ou ilegais, como garimpo e especulação imobiliária, ocorrem amplamente na região e, também, contribuem para economia na região.    

Desenvolver cadeias de valor sustentáveis e com a participação da população local se torna, portanto, uma estratégia tanto para o controle do desmatamento quanto para geração de emprego e renda no interior da Amazônia. Para tal, é necessário desenvolver um ecossistema na região que contemple as organizações de base que estruturam as cadeias de valor, prestadores de serviços para as cadeias, instituições financeiras e, principalmente, negócios (tanto de base comunitária como tecnológicos ou graduados) que gerem produtos de maior agregado. Desenvolver produtos da sociobioeconomia com maior valor agregado é uma estratégia que enfrenta os desafios logísticos da região, ao transportar produtos de menor volume, e ao mesmo tempo permite que na região se gere mais valor econômico.  

Para se desenvolver essa nova matriz e seus ecossistemas são necessários recursos da mesma ordem de seu desafio e potencial de geração de impacto positivo. Estima-se que o Governo Federal necessite aportar 1,8% do PIB anualmente para desenvolver e mudar a matriz econômica, o que geraria 365 mil novos postos de trabalho, aumento de R$40 bilhões ao PIB em 2050 e redução de 94% das emissões de gases causadores do efeito estufa até 20250 (WRI, 2023).   

Em face do montante necessário para a transição do modelo econômico na Amazônia Legal e seu impacto em todo o globo, a agregação de diferentes atores e suas metodologias de financiamento se fazem necessária.  Recursos filantrópicos, investimentos privados, parcerias nacionais e recursos públicos são necessários para a transição econômica, o que demanda estratégias inovadoras de financiamento da transição.  

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