Curso de SAF para Indígenas em Cacoal

Por Geovani Machado, técnico do Projeto Café

No dia 28 de março saí de Apuí por volta das 7h30 com destino a Cacoal, município situado no estado de Rondônia, com o intuito de divulgar os conhecimentos e resultados do Projeto Café em Apuí através de um cuso realizado pela Ecam – Equipe de Conservação da Amazônia, com a população local.

Apesar de estarem separadas por apenas 502,16 km (em linha reta), o trajeto Apuí-Cacoal não é simples, sendo preciso passar pelas capitais dois dois Estados para completar o percurso. As cheias na região dificultaram ainda mais o trajeto e obrigaram a equipe a fazer quatro baldeações na estrada que liga Apuí e Novo Aripuanã, de onde fomos de lancha até Manaus.

Da capital do Estado, pegamos um avião até Porto Velho (RO), e depois seguimos de ônibus por aproximadamente 5 horas até o município de Cacoal, chegando ao nosso destino por volta das duas da madrugada do dia 1 de abril, uma terça-feira.

O curso começou no mesmo dia e seguiu até a sexta-feira, 4 de abril, tendo como local o Centro de Formação Paiter Suruí (CFPS). O foco principal foi capacitar lideranças indígenas sobre os Sistemas Agroflorestais, também conhecidos simplesmente como “SAFs”, e mostrar a melhor maneira de se trabalhar essa modalidade de forma sustentável nas comunidades.

Através dos conhecimentos adquiridos no curso sobre Sistema Agroflorestal, os participantes das capacitações poderão aumentar a produtividade dos sistemas instalados em suas comunidades e, com isso, obter mais lucro para suas aldeias. Até então, eles não adotavam o plantio de diversas espécies florestais ou frutíferas em uma mesma área, que é uma das principais características dos SAFs.

Durante o curso, tive a oportunidade de apresentar as práticas agroecológicas que os produtores do Projeto Café utilizam para melhoria da produção, como o plantio de espécies leguminosas e de adubação verde entre as linhas do café; a aplicação de biofertilizante e o plantio consorciado com espécies madeiráveis e frutíferas, como o ingá, que é um excelente fixador de nitrogênio no solo.

Essas práticas também estão gerando resultados no controle da “broca do café”, principal praga encontrada na região. Além do uso de armadilhas caseiras, também é feito o controle biológico, utilizando o fungo Bauveria Bassiana, inimigo natural da broca.

Durante o curso, também foi realizada uma visita técnica a uma propriedade de café em Ouro Preto do Oeste (RO), que trabalha com produção orgânica. Os participantes puderam avaliar o modelo de um Sistema Agroflorestal de café implantado há mais de 27 anos.

A atividade foi bem interessante e participativa, com muitas trocas de experiências e ideias dos indígenas, que não tinham conhecimentos destas práticas agroecológicas, muito em função da falta de assistência técnica nas aldeias locais, apontada pelos mesmos. Houve também espaço para oficinas de produção do biofertilizante e do adubo foliar líquido, que está tendo bons resultados com os produtores de café do sul do Amazonas no Projeto Café.

Eles viram, nessas práticas apresentadas ao longo desses quatro dias, um interessante caminho a ser trilhado nas comunidades locais, não só por diminuir o custo de produção – que não necessita de investimento em insumos químicos–, mas também por proporcionar a comercialização e o consumo de um produto orgânico e de boa qualidade.

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