Café agroecológico fortalece economia e incentiva práticas sustentáveis no Sul do Amazonas

Por Priscila Rabassa – 

A mudança do cultivo tradicional de café para o sistema agroecológico está gerando bons frutos para os agricultores de Apuí. Resultado de uma parceria entre o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) e a Fundo Vale, o município apresenta hoje potencial para desenvolver sua economia em bases mais sustentáveis.www.teststarter.com

O Projeto Café é baseado em estratégias para oferecer uma alternativa de fonte de renda legal, sustentável e de longo prazo, atrelada a benefícios sociais e compromissos ambientais, contribuindo assim para a mitigação do desmatamento. Fator esse importante, já que Apuí é o terceiro município mais desmatado do Amazonas, atrás apenas de Lábrea e Boca do Acre.

Acreditando que era possível reverter essa tendência com o desenvolvimento de um novo modelo de produção agrícola, unindo conhecimentos técnicos, científicos e tradicionais, e reconhecendo os valores e serviços sociais e ambientais, o resultado foi o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade do produto.

A produtividade do café, que era de apenas nove sacas por hectare em 2011, passou para 13 sacas em 2012 com o início do Projeto e fechou 2013 com 17 sacas por hectare o que representa um crescimento de 89%.

O consórcio das plantas de café com espécies florestais – técnica conhecida como agrofloresta ou “floresta produtiva” – permite o sombreamento do cafezal, o que altera o microclima local, diminui a luminosidade e torna o ambiente mais úmido e equilibrado.

Agregando valor ao produto e diversificando a produtividade geral da lavoura, essas práticas são de grande interesse econômico e social, pois além de contribuir para a produtividade e qualidade do grão, viabiliza a produção orgânica, que não gera impactos à saúde humana ou ao ambiente pela ausência de produtos químicos.

Cafezal João Nilton

Segundo o Engenheiro Agrônomo e pesquisador do Idesam, Vinícius Figueiredo, o agricultor familiar que optou pelo sistema, aprendeu a tomar mais cuidado nas práticas de colheita e pós-colheita. “As famílias se dedicam agora às práticas de colheita e de secagem dos frutos nos terreiros suspensos o que garante bebida de boa qualidade, assim, o café a ser produzido no município pode ser direcionado também para a obtenção de reconhecidas certificações”, destaca.

Não menos importante é o fator ecológico, uma vez que a produção do café em agrofloresta conserva maior biodiversidade no sistema e mais nutrientes no solo, evitando o desmatamento da área de produção.

Um ano depois de iniciado o projeto, o sistema agroecológico, além de auxiliar na preservação ambiental da região, reduziu a aplicação de insumos industrializados, aumentando os ecológicos e, com isso, diminuindo o custo de produção por parte do produtor.

Atualmente, 28 produtores estão cadastrados no projeto com a meta de criar o consórcio de cafezais com a produção de espécies agrícolas e florestais de interesse econômico e alimentar, investindo em práticas que aumentam a fertilidade dos solos com o uso de compostagem, biofertilizante e adubação verde.

Para isso, cada família recebeu este ano 200 mudas de espécies florestais como ingá, gliricídia, eritrina, bandara, faveira, jatobá, itaúba e andiroba, e de espécies frutíferas como açaí, pupunha e graviola, sementes de adubação verde de feijão de porco, feijão guandu e Crotalaria Spectabilis e Juncea. Os produtos foram repassados por meio de uma parceria do Idesam com o Viveiro Santa Luzia e chegaram às mãos do agricultor a custo zero.

Além das sementes e mudas, cada agricultor recebeu ainda armadilhas caseiras produzidas com garrafa pet para captura da broca, principal praga do café conilon, composto orgânico, que será utilizado na implantação dos consórcios agroflorestais, e material para a construção de terreiros suspensos que é a melhor alternativa para minimizar a perda da qualidade dos grãos após a colheita.

Para o produtor de café, João Nilton, vencedor do Concurso Café Agroflorestal de 2013, o projeto é de fundamental importância para o desenvolvimento da agricultura familiar. “Por meio do incentivo e apoio técnico, oferecidos pelo Idesam, foi possível aos produtores da região obter maior produtividade e lucro com práticas de baixo custo”, explica.

Além disso, o produtor afirma que atualmente já é possível produzir um café de qualidade em Apuí apenas seguindo as metodologias aprendidas durante os cursos de capacitação.

Durante a entrega dos produtos, os agricultores já recebem também orientações sobre o trato com as culturas, como espaçamento e adubação. A entrega das sementes obedece ao calendário agrícola, que determina que até o final do mês de fevereiro as roças já estejam prontas, aproveitando o clima, solo e temperatura adequados para a semeadura. A colheita da produção começa a partir do mês de abril.70-410

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