Oportunidade para negócios de impacto na Amazônia

Por Mariano Cenamo, Diretor de novos negócios do Idesam Publicado originalmente na Folha de São Paulo A Amazônia não é só um tesouro de biodiversidade. É também a maior oportunidade para o Brasil se destacar (negativa e positivamente) na economia global pelos próximos dez anos. Existe uma revolução em curso, impulsionada pelo surgimento e proliferação de uma nova geração de empreendedores e negócios de impacto que tem por objetivo resolver os problemas sociais e ambientais do planeta (e ainda lucrar fazendo isso). Na região amazônica, empreendimentos que trazem benefícios para as comunidades locais e ainda ajudam a manter a floresta em pé já estão na mira de investidores. Há 16 anos, quando nós do Idesam (Instituto de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia) iniciamos nossa trajetória, o cenário era completamente diferente. Hoje, a Amazônia está no centro do mundo. Está ficando claro que o aumento do desmatamento não interessa aos negócios e à economia brasileira. Hoje há um crescente interesse de investidores por empreendimentos com visão de risco-retorno-impacto a longo prazo, preocupados com futuro climático do planeta. Eles também sabem que aplicar recursos na maior floresta tropical do mundo é diferente de outros lugares do Brasil. É necessário alavancar uma economia verde, ou de baixo carbono, para gerar muito mais que os míseros 8% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Na entrevista de Fersen Lambranho, presidente do Conselho de Administração da GP Investments, ele afirma que meio ambiente é um grande filão ainda pouco explorado pelas startups brasileiras. Compartilhamos da mesma visão: a Amazônia é o Vale do Silício do Brasil das nossas próximas gerações. O Idesam apoia negócios inovadores através do Programa de Aceleração da PPA (Plataforma Parceiros pela Amazônia). Criado em 2018 e destinado totalmente a fomentar negócios e startups da região, atende às demandas e realidades locais. Além do processo de incubação e aceleração, oferecemos oportunidades de investimento, cooperação, mentorias e networking com o ecossistema de negócios de impacto da região para potencializar suas ações. A Manioca, por exemplo, uma empresa fundada em 2014 em Belém, não sabia que sua indústria de geleias, farinhas e temperos era um negócio de impacto. Após participar do PPA, Joanna Martins, proprietária da Manioca, descobriu novas opções de incentivos para empreendimentos dessa natureza. Mudou a visão do seu modelo de negócio e já negocia com um fundo de investimentos internacional de private equity. O portfólio atual do PPA conta com 30 negócios acelerados, dos quais 12 startups receberam investimentos que somam quase R$ 6 milhões. Empreendimentos Inovadores), uma das cinco melhores aceleradoras de impacto do Brasil. Também está em segundo lugar na Chamada Soluções Inovadoras para o Desenvolvimento Sustentável, que selecionou as melhores iniciativas da América Latina que contribuem para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Organizações das Nações Unidas (ONU). A meta do PPA é estruturar um fundo de aceleração de negócios e investir em mais 30 startups nos próximos cinco anos para garantir a conservação de cinco milhões de hectares e beneficiar mais cinco mil famílias. Para atingir o objetivo, o Idesam está levantando investimentos da ordem de R$ 25 milhões para o programa. Mesmo com desafios de infraestrutura, informalidade, comunicação e criminalidade, precisamos explorar as “brechas” ou vantagens que podem trazer imensa competitividade para o ambiente de negócios inovadores na Amazônia. O aumento do desmatamento não interessa ao Brasil. Ao comprar produtos da floresta, podemos colaborar com a criação de uma nova economia e com a manutenção dos serviços ambientais que a maior floresta tropical dá ao mundo todo. Com o PPA, programas como o PPBio e outras iniciativas como os óleos Inatú e o Café Apuí, nosso sonho é chegar em 2030 com os negócios da floresta encabeçando a recuperação econômica da região e respondendo por uma fatia significativa do PIB regional. Será o “green new deal” amazônico.

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