‘Reflorestamento e os desafios de estruturação da cadeia produtiva na Amazônia’ encerra edição do Meetup Acelera – Bioeconomia em 2023

Cadeia produtiva da restauração gerou 8.223 empregos diretos no Brasil em 2020 

Além de garantir a manutenção de recursos naturais e contribuir com a mitigação das mudanças climáticas, a restauração de florestas também pode ser aliada no desenvolvimento das economias no interior da Amazônia, agregando geração de renda para as comunidades tradicionais. O tema do último encontro de 2023 do ‘Meetup Acelera – edição Bioeconomia’, realizado nesta quinta-feira, 14.12, trouxe exemplos de negócios que atuam na cadeia produtiva do reflorestamento, novas ideias e soluções em fase de captação e exemplos de marcas consolidadas que trabalham com essa perspectiva.   

Estudo da British Ecological Society apontou que a cadeia produtiva da restauração gerou 8.223 empregos diretos no Brasil em 2020, sendo 43% permanentes e 57% temporários, sendo organizações sem fins lucrativos (48%) e empresas privadas (37%) os principais empregadores. A pesquisa foi feita com dados da Vitrine da Restauração da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE). 

“A cadeia da restauração tem ganhado cada vez mais importância porque estamos vendo a necessidade de trabalhar áreas degradadas. E como operacionalizar isso em termos de mudas, sementes, financiamento, logística? Colocar os diferentes atores do ecossistema de bioeconomia em contato favorece novas soluções”, afirma o diretor técnico do Idesam, André Vianna. “O Idesam atua com a restauração por meio de Sisteas Agroflorestais – SAFs- que é uma das formas de recuperar a floresta, conciliando o plantio de espécies agrícolas e arbóreas”, completa.  

Sobre o tema ‘Estratégia de lançamento de produtos com a marca Amazônia’, a gerente sênior de Sustentabilidade na Natura &Co Latam, com foco em Biodiversidade e Amazônia, Priscilla Matta, destacou, na palestra de abertura, que conservação e regeneração é um dos pilares da empresa que baseia suas atividades no uso sustentável da biodiversidade. Para isso, possui diferentes corpos técnicos que trabalham com manejo, com a estruturação de custos e beneficiamento a partir de coeficientes que permitam um comércio ético e uma relação de desenvolvimento da região e das comunidades com as quais atuam.  

“Temos diversas unidades de beneficiamento nas comunidades, ajudando no processo de transferência de tecnologia, capacitação, além de geração de renda com valor agregado. Procuramos comprar o óleo ou manteiga vegetal em vez da matéria-prima bruta, por exemplo”. Hoje, 90% dos sabonetes produzidos pela Natura são feitos na região amazônica, segundo ela. Estruturar compromissos públicos é um dos passos importantes para alavancar a estratégia que permite trabalhar essa rede de relações. Somente em 2022, mais de R$ 43 milhões em recursos foram alocados nas comunidades, além do valor pago pelo fornecimento dos produtos, a partir da repartição de benefícios, investimento em pesquisa, unidades de beneficiamento, projeto de pagamento por serviços ambientais, entre outros. 

Louise Lauschner, especialista em cadeias da sociobiodiversidade da Inatú Amazônia®, trouxe o exemplo da marca coletiva, que nasceu de uma das iniciativas estratégicas do Idesam, de que é possível, a partir do manejo e do plantio de espécies arbóreas, conseguir agregar renda para as associações comunitárias. “Identificamos que havia uma grande quantidade de pessoas que queriam comprar esses óleos vegetais de uma fonte confiável, com procedência, que possuía uma análise físico-química, com rastreabilidade, com potencial maior de lucro para essas associações. E gerar renda no interior, onde não se tem acesso a energia elétrica o tempo todo, é algo muito impactante para essas comunidades”, afirma.  

Outro ponto destacado por ela como diferencial da Inatú foi a união de várias associações que passaram a se enxergar como parceiras e não mais como competidoras, ajudando a superar obstáculos. “Já conseguimos mais de R$ 7 milhões em comercialização de óleos com as unidades de conservação junto, gerando renda. Um exemplo que gosto de destacar é o da RDS Uatumã, onde existe muito breu branco. Em 2018, pagava-se R$ 1,50 pela resina, que era usada para selar barcos de madeira. Depois da miniusina, esse valor passou a ser de R$ 6 a R$ 8, e o óleo essencial chega a custar R$ 2 mil o litro”, pontua. Louise explica que essa valorização foi importante porque trouxe de volta a prática extrativista que vinha sendo substituída por outras alternativas de renda que impactam a floresta, além de permitir o compartilhamento desse conhecimento com os mais jovens.

Atores da cadeia  

A cadeia produtiva da restauração florestal envolve diversos atores que vão de fornecedores de mudas, assistência técnica a financiamento e comercialização do produto gerado dentro dessas áreas. Esse é o modelo adotado pelo Café Apuí Agroflorestal, cujo case foi destacado pela mediadora do debate entre os atores da cadeia, Sarah Sampaio, CEO da empresa responsável pela comercialização, Amazônia Agroflorestal. O café é plantado em áreas degradadas, por meio de SAFS, ajudando a gerar alimento e renda para as 83 famílias produtoras. Mais de 159 hectares já foram restaurados.  

Garantir o desenvolvimento de uma muda, durante o restauro, é o desafio que a startup Cultivo Certo se propôs a solucionar ao substituir o uso de plástico por um produto biodegradável, evitando o estresse da raiz, o que garante melhor qualidade e melhor desempenho da muda. “Também verificamos que um dos gargalos da cadeia está no pós-plantio: colocar uma muda no meio de uma área degradada e esperar que ela se desenvolva bem não é o caminho. Por isso, temos um produto que está sendo validado que capta água da chuva e possui uma cápsula de liberação lenta de nutrição, que ajuda no crescimento da planta”, explicou a CEO, Ítala Lorena 

João Meirelles, do Instituto Peabiru, trouxe o exemplo de trabalhar com abelhas nesse processo de restauro. Concentrado no entorno de Belém, a recuperação de áreas funciona melhor, se consorciado à criação desse agente polinizador. Uma outra frente de trabalho fornece assistência técnica especializada a produtores na cidade de Barcarena, aliado ao fortalecimento das associações existentes para ampliar e fortalecer a cadeia.  

Biozer da Amazônia, empresa de alimentos funcionais e cosméticos naturais, começa a assistência técnica com a adequação de todo o processo para atender as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que ajudou a conquistar passos maiores como a certificação Hallal e Ecocert, que garante o produto de origem ecológica e natural. “Em 2017, quando começamos, precisamos chegar até o fornecedor e identificamos uma série de atravessadores, que ofereciam os óleos, a manteiga, sem garantia de origem. Optamos por não trabalhar desse jeito e ir até às comunidades e ouvi-las foi um passo importante para entendermos a realidade e começar a construir essa relação direta”, explica Danniel Pinheiro. “Tendo essa visão mais sistêmica, somos mais fortes. Acredito muito nesse formato porque juntos, somos mais fortes”, completou.  

As questões fundiárias e a consequente insegurança jurídica que dificultam o acesso a financiamentos são outros exemplos de dificuldades enfrentadas dentro das cadeias produtivas, o que facilita os processos informais. Para Macauley Abreu, da startup Onisafra e ForestFi, é preciso garantir uma estrutura mínima para produtores e extrativistas, como capital de giro para formação de estoque, por exemplo. “Por isso, estamos caminhando para novos mecanismos de acesso ao financiamento. Fizemos uma experiência inicial em uma escala pequena com uma plataforma de tokenização de ativos da natureza. Através da tokenização do guaraná, ou seja, a representação digital desse ativo físico, conseguimos investimento para formação de estoque, por meio da venda desses tokens, o que vai permitir que eles vendam essa produção em um melhor momento”, explicou.  

Novos negócios 

Dentro do quadro de pitch de novos negócios, a startup Adubo Sustentável apresentou o case de fornecimento de adubo orgânico por sistema de assinatura. Por meio da coleta de resíduos em baldes fornecidos pela startup em Paragominas (PA), os assinantes do serviço recebem o produto beneficiado. O serviço agrega ainda o processo de educação ambiental ao orientar sobre o descarte de resíduos.  

Trabalhando com consultoria em projetos REED +, a Inova Recursos Florestais, vem desenvolvendo projetos sustentáveis na Amazônia voltados ao mercado de crédito de carbono, com diagnóstico e inventário de fauna, flora, modelagem, entre outros, está trabalhando em um novo sistema, a partir do mapeamento de áreas degradas que têm potencial para geração de crédito de carbono, de propriedades privadas.  

Já a Munguba Soluções Ambientais, que trabalha com produção de mantas isolantes termo acústicas a partir da fibra do fruto de Munguba, visa o mercado em escala europeu, tem a proposta de produzir esse material a partir do plantio em áreas de várzea, em sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), promovendo geração de renda na Amazônia profunda.  

Oka Biotecnologia, focada em bioembalagens, tem o diferencial de produzir embalagens a partir da fécula de mandioca e água, garantindo um processo 100% regenerativo e de economia circular. Os produtos se adaptam ao freezer e ao forno e são considerados o de menor pegada hídrica do mercado.   

O Meetup Acelera – edição Bioeconomia é uma realização conjunta entre Idesam, Fundação Rede Amazônica (FRAM) e Impact Hub Manaus com o objetivo de consolidar a conexão entre novos negócios, pesquisadores, investidores, empreendedores e demais atores do ecossistema de bioeconomia na Amazônia.  

Em 2023, foram realizadas outros quatro encontros temáticos ligados às cadeias de óleos vegetais (agosto), açaí (setembro), pescado manejo (outubro) e castanha (novembro), todos de forma híbrida, com encontro presencial no auditório do Impact Hub Manaus e transmissão ao vivo pelo G1 AmazonasYoutube e plataforma da FRAM

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