Pecuária silvipastoril ganha novos adeptos em 2016

Por Samuel Simões Neto

Entre janeiro e fevereiro de 2016, o Idesam realizou a implantação de nove módulos de Sistema Silvipastoril Intensivo (SSPI) em municípios do sul do Amazonas atendidos pelo Projeto ATES. Do total, duas são unidades demonstrativas localizadas nos projetos de assentamentos do Matupi (Manicoré) e Acari (Novo Aripuanã) e foram direcionadas a produtores familiares de gado leiteiro, visando aumentar a produtividade das fazendas, reduzir o desmatamento e agregar qualidade de vida aos animais.

A atividade é realizada em quatro etapas e dura, em média, 60 dias: a primeira fase consiste na análise e recuperação do solo (através da aplicação do calcário, ou “calagem”); seguida pela divisão dos piquetes; construção das cercas elétricas e instalação do sistema hídrico.  

“O último passo é o plantio de mudas e forragens de rápido crescimento, que enriquecem mais ainda a alimentação do rebanho e fazem um controle natural de plantas invasoras”, explica o engenheiro agrônomo Júlio Almeida, técnico extensionista do Projeto ATES e responsável técnico pela instalação da UD no Acari.

Para a veterinária Ana Rezende, técnica extensionista do Idesam em Manicoré, a escolha dos assentados para a implantação da UD é resultado de um processo de sensibilização que vem sendo realizado desde 2014, com o início da assessoria técnica. “Precisamos de produtores que estejam abertos a adotar novas metodologias de trabalho, que já existem há muitos anos, mas nunca foram levadas ao conhecimento dessas pessoas”, diz.

Como o próprio nome sugere, as unidades demonstrativas serão usadas para divulgar os resultados e avanços proporcionados pelos novos métodos de criação de gado. Através das atividades chamadas ‘dias de campo’, outros produtores do assentamento serão convidados a visitar o sistema e conhecer seus benefícios ambientais e econômicos.

Para Ana, essa transformação gradativa na forma como os produtores enxergam sua relação com a natureza é um dos objetivos finais da atividade. “É muito bom vê-los dizer que não é preciso mais derrubar árvores para produzir”, finaliza.

Em Matupi, as melhorias trazidas pelo SSPI já são percebidas: na fazenda do produtor João Carlos Rech (47), que normalmente mantém uma média de 40 animais amamentando, a mesma área que era esgotada em apenas 30 dias, poderá ser usada permanentemente pelo gado, sem esgotamento do pasto. Além do tratamento adequado do solo e uso de espécies agronômicas, a divisão dos 7 ha (hectares) em vários piquetes para a “rotação” dos animais é um dos fatores que possibilita esse melhoramento.

Os demais sete módulos partiram do investimento próprio dos assentados que mostraram interesse na pecuária silvipastoril, eles submeteram um projeto ao Incra e receberam assistência técnica do Idesam na instalação das áreas.

Sistemas Silvipastoris

Conforme Júlio Almeida, o consórcio entre árvores e pastagem – conhecido como Sistema Silvipastoril Intensivo (SSPI) – é importante não só por aumentar a ciclagem de nutrientes no solo, mas também por auxiliar na descompactação do mesmo, o que reduz significativamente o risco de erosões,  principalmente em áreas de encosta.

Além disso, a sombra proporcionada pelas árvores diminui a perda da umidade do solo, conservando maiores taxas nutricionais do capim. “O conforto térmico também é de grande importância para os animais: com melhor desempenho orgânico, a produção do leite tende a aumentar significativamente”, enfatiza.

As espécies selecionadas para compor o ambiente estão divididas em duas categorias: as madeireiras (mogno, ipê-amarelo, ipê-roxo, paricá, jenipapo e andiroba) e as leguminosas (ingá, bordão de velho, leucena e gliricídia), que são apreciadas pelos bovinos e podem servir como parte da alimentação, aumentando a oferta nutricional de proteína aos animais.

Projeto ATES – A ação integra a agenda de trabalho do Idesam no Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES), desenvolvido pelo Incra. As atividades de assistência técnica realizadas pelo Idesam estão divididas em dois lotes (como são chamados os conjuntos de assentamentos definidos pelo Incra durante chamada pública). O lote 01 comporta assentamentos em Apuí, Novo Aripuanã e Manicoré, enquanto o lote 11 é formado por áreas em Manaus e Presidente Figueiredo.

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