Intercâmbio promove práticas sustentáveis na Amazônia

Por Maristela Gomes, pesquisadora do Programa Produção Rural Sustentável

Do dia 3 a 9 de outubro, participei de um intercâmbio sobre modelos de restauração florestal, organizado pelo WWF-Brasil.

A primeira atividade aconteceu em Apuí, onde estiveram presentes representantes de instituições como Idam, Sindisul, Embrapa Rondônia e das secretarias estadual e municipal do meio ambiente, assim como produtores e técnicos atuantes no município.

O objetivo foi discutir a restauração florestal e promover a troca de experiências no uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs) a partir de modelos desenvolvidos nos estados do Amazonas, Rondônia e Acre.

No primeiro dia, cada instituição apresentou o trabalho desenvolvido para recuperar áreas degradadas em Apuí. O Idesam participou apresentando os projetos realizados com reflorestamento, pecuária sustentável e café agroflorestal, com ênfase na alternativa para restauração florestal.

No dia seguinte, partimos para o intercâmbio em Porto Velho, onde foi realizada uma visita técnica ao Projeto RECA. A experiência dos produtores mostrou a importância que a organização social teve na construção de um conhecimento sobre plantios consorciados e que atualmente é referência em produção sustentável.

De lá, partimos para o Acre a fim de conhecer o Projeto de Assentamento Humaitá. Na propriedade visitada a produção é mantida com a mão-de-obra familiar, sendo a principal renda de quatro famílias. Eles também fazem parte de uma rede de agroecologia, o que possibilitou a certificação orgânica por sistema participativo. Os SAFs são bem diversificados e com diferentes características de implantação e manejo.

Em Rio Branco, visitamos também o experimento Arboreto, na Universidade Federal do Acre, onde presenciamos um reflorestamento de mais de 50 anos em uma área com histórico de pasto degradado.

Nossa última visita foi em Boca do Acre, no sul do Amazonas, na tribo indígena Camicuã (Apurinã). Lá vimos agroflorestas com mais de 15 anos e diferentes estágios da sucessão ecológica. O histórico das áreas remete ao ciclo da borracha, seguido pela formação de pastagens. Nesse período os indígenas foram expulsos e com muito esforço puderam voltar ao local.

Com apoio do Projeto Mochila Agroflorestal e no conhecimento tradicional eles passaram a utilizar os SAFs para a restauração de nascentes e áreas de pastagens abandonadas. A paisagem foi renovada, resgatando características naturais da floresta com a produção de alimentos.

De maneira geral, o intercâmbio nos permitiu conhecer uma diversidade de modelos para a restauração florestal a partir de sistemas agroflorestais. Com exceção da visita no Projeto Reca, em todas outros locais, fomos acompanhados pelo Engenheiro Agrônomo Flávio Quental, da WWF, que participou desde o início na elaboração e implantação dos modelos visitados.

Durante a viagem, os momentos compartilhados dentro do ônibus foram aproveitados para discutir temas relacionados a interações dos elementos da paisagem, alternativas de uso de espécies para áreas em situação específica como áreas degradadas, áreas de várzea, capoeira, solos arenosos, etc.

Além disso, foi comentado sobre a aptidão das espécies nativas da região, como adubadeiras, cercas vivas, forrageiras e de cobertura. Essas discussões foram facilitadas pela pesquisadora Elisa Wandelli, da Embrapa, e despertaram os participantes para a importância da floresta na produção agropecuária na Amazônia.

As visitas tiveram grande efeito no reconhecimento por parte dos produtores e profissionais, com destaque para a eficiência dos sistemas, assim como a melhoria nas condições de vida que podem ser geradas com o uso de SAFs na Amazônia. Essa melhoria diz respeito não somente à produtividade, mas também à qualidade dos alimentos consumidos pela comunidade e a preservação do ambiente.

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