Agricultura Sustentável em Terras Indígenas

Por Ramom Weinz e Marina Yasbek*, consultores do projeto Agricultura Indígena

Entre os dias 22 e 24 de abril, pesquisadores do projeto “Diagnóstico da produção alimentar e criação de banco de sementes e viveiro de árvores nativas de uso alimentar e medicinal junto a comunidades indígenas” participaram do curso “Relevância dos Saberes e Práticas da Agricultura Tradicional do Rio Negro”.

A atividade foi realizada pelo Iphan em parceria com o CNPq, Embrapa, Instituto Socioambiental (ISA), Secretaria Estadual de Produção Rural (Amazonas) e Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), em Santa Isabel do Rio Negro, município localizado no norte do Amazonas.

O sistema tradicional agrícola do Rio Negro (referente às cidades de Barcelos, Sta. Isabel e São Gabriel da Cachoeira) é o primeiro e único a ser tombado como patrimônio cultural nacional pelo Iphan, em 2010.

Com cerca de 110 espécies de manivas e outras 300 espécies agrícolas e florestais, a agricultura indígena praticada nessa região se caracteriza principalmente pela alta capacidade de conservação da floresta e geração de agro biodiversidade, bem como pela multiplicidade de usos dos recursos agrícolas para a confecção de cestarias, utensílios de pesca e fabricação de casas, por exemplo.

O objetivo principal do curso foi discutir a formulação de politicas públicas de assistência técnica e extensão rural (ATER), junto às instituições públicas e privadas que atuam na região, afim de garantir a continuidade do sistema tradicional agrícola. Por sua vez, o projeto desenvolvido pelo IDESAM em S. G. da Cachoeira é pioneiro na região e surgiu como demanda da Sepror, ao criar, em 2010, o Programa de Agricultura Indígena, em que o eixo temático “banco de sementes” é financiado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

Com 36 etnias diferentes distribuídas em 41 terras indígenas, São Gabriel é um município majoritariamente indígena, que apresenta a agricultura em áreas florestais e urbanas como principal fonte de subsistência e renda da população.

Em parceria com a Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN) e apoio do Idam, a partir de maio desse ano, serão implantadas unidades demonstrativas de sistemas agroflorestais em duas comunidades indígenas: Ilha Duraka e Itacoatyara-Mirin. Além de promover a soberania alimentar e fortalecer aautonomia da produção agrícola, o diferencial do projeto reside no plantio de espécies que os próprios indígenas apontaram como espécies em franco declínio na região e que desejam manter (entre elas o milho e o ariã).

O foco é fazer desses SAFs um banco vivo de propágulos não só de interesse alimentar mas também econômico e cultural para essas comunidades.

*Ramom Weinz possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (2011). Marina Yasbek tem Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas, pela Universidade de São Paulo – USP.

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